Solidariedade: servidores estaduais em greve realizaram doações às entidades
- ASSAGRA
- 17 de dez. de 2019
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Numa manhã de domingo, duas meninas brincam de pega-pega ao lado de uma escola estadual abandonada, enquanto suas mães, na cozinha, seguem com os preparativos de uma festa marcada para mais tarde. Aila, quatro anos, falante e sorridente, recebe um anel de presente e volta a brincar com Lavinia, de dois anos. Outras crianças surgem, duas meninas e quatro meninos. São crianças que passaram e outras que estão com suas mães na Casa de Referência da Mulher - Mulheres Mirabal, espaço que há três anos dá suporte, apoio e acolhida a mulheres vítimas de violência. A casa, que não conta com aporte financeiro dos governos, já acolheu milhares de pessoas e abrigou mais de 300 mulheres.
Atualmente moram na casa cinco mulheres e três crianças, entre elas Aila e Lavinia. Andressa Guedes, uma das coordenadoras, explica que nos finais de semana sempre aparecem mais crianças e mães que já foram acolhidas pela casa. “São laços que foram se solidificando, se construindo uma família”, explica Andressa, que destaca a importância da mobilização dos servidores por seus direitos, assim como as mulheres pelo direito à moradia.

A Mirabal, no domingo, foi a primeira entidade em que os servidores em greve realizaram as doações, que tiveram continuidade na segunda-feira (16). A primeira a ser visitada no dia que antecede o início da votação do pacote de reestruturação administrativa do Estado (Pacote da Morte) foi a ocupação Baronesa. Situada no bairro Cidade Baixa, a ocupação atualmente funciona como uma casa de passagem e acolhimento dos povos indígenas que se deslocam das suas comunidades para vender seus artesanatos, sua principal fonte de renda. A casa que acolhe oferece aos visitantes uma feira de artesanato permanente das mulheres Mibyá Guarani da Tekoá Jataí"ty de Viamão, outra maneira de dar sustentabilidade ao dia a dia dos mesmos.

Desde julho passado a ocupação está situada em um prédio que se encontra em litígio de herança e que estava abandonado há mais de 20 anos. Alice Martins, indígena Guarani e coordenadora da ocupação, ao receber a equipe responsável pela entrega das doações, destacou a desestruturação e o sucateamento dos órgãos públicos. Um desmonte, segundo ela, esperado, visto ao alinhamento político entre os governos federal, estadual e municipal.
“É importante essa unidade que vocês servidores construíram, e o mais importante é que ela se mantenha, independente do resultado”, afirmou Alice, que destaca a massiva participação das mulheres nesse processo. “A mulherada está unida e resistente para enfrentar o patriarcado, o machismo, e o pacote do (governador) Leite”, destacou.
Na sequencia foi a vez do Asilo Padre Cacique receber as doações. A casa abriga 120 idosos, a partir dos 60 anos, com renda de até um salário mínimo . De acordo com o funcionário que recebeu a equipe, apenas 20 idosos recebem visitas de familiares. Os demais recebem visitas de voluntários. A última entrega foi feita ao asilo Spaan, administrado atualmente por um servidor aposentado da Secretaria do Planejamento. São asilos que dependem muito de doações.
DESCASO
“Mirabal e Baronesa são exemplos do descaso do poder público, e de resistência frente ao enfraquecimento das políticas públicas”, aponta Fernanda Corezola, servidora da Secretaria do Planejamento. “Foi uma atividade muito importante, em que a gente destinou as doações dos servidores públicos que estão em greve justamente para comunidades idosas aqui de Porto Alegre e também de mulheres, que são justamente as populações que precisam de políticas públicas, que precisam de serviços públicos fortes, objetivos da nossa greve”, sublinha Fernanda.
As servidoras que realizaram as entregas destacam a importância da oportunidade de conhecer esses espaços e da possibilidade de se construir e fortalecer esse diálogo. Para elas, a greve, além de uma reivindicação pelos direitos dos servidores e pela defesa do serviço público, foi uma oportunidade de sair dos espaços institucionalizados e ficar mais perto desses segmentos sociais, em sua maioria não assistidos pelo poder público.
“Há um interesse, uma vontade dos servidores públicos de mostrarem para a sociedade que a sua ação e o seu serviço são importantes, que, portanto, precisam ser valorizados”, enfatiza Fernanda, que finaliza afirmando a importância de os servidores em greve, mesmo com salários congelados e pagos com atraso e em parcelas, apoiarem segmentos sociais que estão entre os mais vulneráveis da sociedade e que por isso precisam que as políticas de bem-estar social, de direitos humanos e de saúde e educação sejam fortalecidas.
Ao todo, a campanha arrecadou mais de 200 brinquedos empacotados, cerca de 500 unidades de produtos de higiene, mais de 200 peças de roupas e 55kg de alimentos não perecíveis.
Texto e Fotos: Fabiana Reinholz
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